Edição especial NY: Magnolia Bakery e o túnel do tempo
Fazia alguns anos que eu não entrava na Magnólia Bakery. E isso não aconteceu por falta de oportunidade, nem por culpa da pandemia. Ano passado mesmo estive em NYC, mas nem lembrei de visitar a confeitaria preferida da Carrie Bradshaw.
Ultimamente, confesso que estava com um pouco de pé atrás, por conta das muitas lojas abertas tanto em Nova York como mundo afora. Puro preconceito, mas talvez eu tivesse um medo secreto de me decepcionar. Infelizmente, muitas vezes quando pequenos negócios na área da gastronomia são vendidos a grandes grupos, pouco a pouco a qualidade e a identidade escorrem pelo ralo…
Antes de contar como foi minha visita, um pouco de história e contexto: Em 1996, Jennifer Appel e Allysa Torey abriram juntas, em uma casinha no número 401 da Bleecker Street, a Magnolia Bakery. Produziam cookies, bolos, puddings e com as sobras de massa, tiveram a brilhante ideia de fazer fornadas de Cupcakes, vendidos sempre muito frescos e acompanhados de buttercream nos mais lindos tons pasteis. (Há quem afirme que a febre dos Cupcakes que tomou o mundo nos anos 2000 de certa forma foi “culpa” do sucesso da Magnolia Bakery.)
A confeitaria fez sucesso no bairro, na cidade de Nova York e acabou indo parar nos episódios da série Sex and the City. O sucesso da séria impulsionou o sucesso do negócio e de repente turistas do mundo inteiro formavam filas que davam voltas no quarteirão da loja. Imagino que talvez este “boom” tenha sido intenso demais para as fundadoras do negócio, porque mais ou menos na mesma época elas se desentenderam e Jennifer Appel saiu da sociedade. Mais tarde, em 2006 , Alisa Torey vendeu a confeitaria a Steve Abrams, e um pouco mais tarde a empresa passo a ser propriedade de um fundo de investimentos.Com isso, filiais pipocaram na cidade , nos Estados Unidos e hoje ela existe em Dubai, na India e no Mexico. Entre 2016 e 1017, ensaiou uma chegada ao Brasil, mas a loja nunca foi inaugurada.
A primeira vez que entrei na Magnolia foi em 2006, quando ela ainda era propriedade da Alyssa Torrey. Na época, as filas eram gigantes e eu lembro de ter desistido algumas vezes de esperar. Sempre deixava para ir de manhã cedo, quando o movimento era mais tranquilo. Sendo o ET que eu sempre fui em relação a séries de TV, eu não tinha a mínima ideia de quem era Carrie Bradshaw e nunca tinha visto um único episódio de Sex and the City. Lógico que eu já sabia que o lugar era famoso, mas não fui com muitas expectativas.
A lojinha era de uma simplicidade desconcertante, e o balcão meio bagunçado. Atrás, milhares de bandejas, fornos, bowls de batedeira e um movimento constante, que dava a impressão que de fato tudo aquilo era produzido ali mesmo e a cada hora. Mas o cheiro da loja conquistava até o mais exigente dos consumidores: Manteiga, baunilha, creme, caramelo, bolo assado… Tudo junto e ao mesmo tempo. Mesmo não sendo uma fã de cupcakes, eu me apaixonei na hora por tudo que eu vi, e comecei ali a explorar os sabores da confeitaria americana tradicional, caseira, que considero ainda hoje uma referência. Eu gostei do que comi, ( será que eu dei sorte?) voltei muitas vezes, mas depois que comecei a ver as novas unidades “repaginadas”, acabei deixando ela de lado.
Janeiro de 2024, estou passeando pelo West Village neste começo de temporada nova-iorquina e me dou conta que estou do lado da Magnolia original. Não pensei duas vezes e fui direto, com o objetivo principal de incluir o cheesecake na minha busca. (Tá acompanhando pelo Instagram?). Abro a porta, e aquele cheiro me invade de surpresa. Na mesma hora me sinto como há quase 20 anos. Ufa, a Magnolia não mudou!
O balcão parece o mesmo e a bagunça também. Tudo é familiar, e compro um Cupcake de chocolate. Dou sorte de novo: Macio, perfumado e fresquíssimo, com o buttercream cremoso e muito bem feito. Arrisco dizer que mesmo com uma produção que hoje deve ser gigante, não devem usar aditivos nem conservantes nas receitas, e a baunilha continua sendo de boa qualidade. Talvez, se comparados com um entremet do Cedric Grolet, os bolinhos da Magnolia são caseiros demais. Mas e dai? Eu continuo gostando.